Este virou o assunto do momento quando falamos de economia internacional. Antes de entender como esse evento pode afetá-lo, vamos falar sobre como tudo isso começou. Desde 2018, Trump vem tentando negociar com a China um acordo comercial que considere mais justo para os Estados Unidos. Apesar de algumas tentativas iniciais de acordo, ele vem exercendo a pressão por um acordo que eleve as tarifas sobre produtos importados da China. A China, por outro lado, tenta retaliar parte desse movimento.
Vamos a uma cronologia dos principais acontecimentos desde 2018:
- 22 de março de 2018: EUA impõe taxação sobre US$50 bilhões de produtos chineses.
- 4 de abril de 2018: China anuncia tarifação sobre importações americanas em US$50 bilhões.
- 10 de julho de 2018: EUA anuncia tarifação de 10% sobre mais US$200 bilhões de produtos importados da China.
- 12 de julho de 2018: China anuncia retaliar em US$ 60 bilhões, caso os EUA avancem com tarifação sobre US$200 bilhões.
- 17 de setembro de 2018: tarifação sobre US$200 bilhões e US$60 bilhões de EUA e China entram em vigor.
Veja que a China tenta, em um primeiro momento, retaliar os EUA na mesma magnitude (US$50 bilhões); porém, em um segundo momento, a retaliação dos US$200 bilhões é de somente US$60 bilhões. Isso acontece porque a China importa muito menos que os EUA. Para se ter uma ideia, em 2018, a China exportou aproximadamente US$540 bilhões aos EUA, enquanto os americanos exportaram US$120 bilhões. A diferença entre esses valores foi o déficit comercial dos EUA com a China de aproximadamente US$420 bilhões de dólares no ano passado. Ou seja, olhando diretamente esses números, podemos ver que a capacidade de retaliação da China sobre os produtos exportados pelos EUA é menor; e que, nesta guerra comercial, quem mais tem a perder é a própria economia chinesa.
Quando parecia que tudo caminharia para um acerto comercial em 2019, no último dia 1º de agosto, Trump anunciou que tarifará mais US$300 bilhões de produtos chineses no início de setembro. Uma decisão que vem seguida de uma retaliação chinesa bem mais branda: não vão mais comprar produtos agrícolas americanos.
Como essa história vai terminar?
É claro que a tarifação por si só afeta muito mais a China do que os EUA, dado o tamanho das exportações chinesas em comparação com as exportações americanas, mas outros fatores entram no agregado dessa disputa:
- Ano que vem, haverá eleições presidenciais nos EUA e Trump já deixou claro que pretende disputar a reeleição. Para Trump, seria ótimo conseguir um acordo comercial com a China que ele entendesse como benéfico para os EUA. Por conta disso, ele vem tentando endurecer as negociações, apesar de representar um grande risco de desacelerar a economia americana enquanto o imbróglio continua;
- A China sabe que as tarifas afetarão as suas exportações, mas ela pode se utilizar da desvalorização da sua moeda para fazer essa tarifação ter um menor efeito, dado que, com uma moeda desvalorizada, pode compensar parte das tarifas impostas pelos EUA.
O cenário se mostra complexo, mas a barganha que Trump possui (por conta de importações gigantes dos EUA em relação a China) começa a diminuir quanto mais próxima fica a eleição americana. A China sabe que maior tarifação tende a desacelerar ambas as economias, e, com a desaceleração da atividade americana, a reeleição de Trump poderia ser mais complicada.
Isso tudo parece um jogo de xadrez, certo? Devemos ter mais novidades sobre essa guerra comercial até o início do processo eleitoral americano no ano que vem. Mas como fica o Brasil no meio disso tudo? A resposta não é tão fácil, mas vamos elencar as principais variáveis:
- Câmbio: se a guerra comercial se aprofundar, devemos ver menor crescimento dos países desenvolvidos e possivelmente um gatilho para uma recessão. Nesses momentos, os estrangeiros costumam sacar capital dos emergentes para alocar em ativos mais seguros, o que poderia ocasionar uma desvalorização do real perante o dólar.
- Inflação: a inflação está bem ancorada e uma leve desvalorização do real diante do dólar não deve impactar muito nela, a não ser que a desvalorização seja para algo acima de 4,50 R$/US$. Assim, a inflação não é algo que preocupa, pelo menos por agora.
- PIB: o desaceleramento da economia global por conta da guerra comercial EUA x China deve impactar em alguma medida o nosso crescimento também. Consequentemente, poderia dificultar a retomada do PIB de 2020, por exemplo.
- Exportações: é difícil mitigar se o Brasil vai acabar se beneficiando dessa guerra comercial com algum redirecionamento das importações americanas para produtos brasileiros. De toda forma, o movimento protecionista que vem sendo adotado pelos EUA trouxe urgência para outras zonas econômicas adotarem acordos de livre comércio com o Brasil, o que tem sido positivo para abrir mais a economia brasileira.
- Selic: a taxa básica acaba dependendo muito da expectativa futura de inflação. Se a inflação continuar bem comportada, as expectativas em relação a essa taxa não devem mudar muito no curto prazo.
- Bolsa de valores: nesta variável, o movimento costuma ser mais intenso. As reformas que vêm sendo feitas ajudaram o Ibovespa a atingir recorde histórico, assim como a expectativa de outras reformas. Essa arrumação interna é positiva e ajuda nossa bolsa a sofrer menos com uma possível recessão internacional, porém uma desaceleração global, advinda de guerra comercial, dificilmente não seria sentida por nossas empresas aqui.
A diversificação se mostra mais evidente quando passamos por recessões; por conta disso, vale conferir se os investimentos estão diversificados e posicionados para um aprofundamento da guerra comercial. É possível que haja mais volatilidade no portfólio, o que exercitaria o perfil de risco do investidor.
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