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Por que intervenções em estatais são ruins para o mercado financeiro?

por Augusto Andréa

Geralmente, o discurso de intervenção do governo em uma empresa estatal, ou melhor, de capital misto (sociedade composta pelo Estado e o mercado) costuma ser o de estar protegendo os brasileiros de preços que seriam abusivos. Em fevereiro de 2021, vimos isso acontecendo, por exemplo, na Petrobras, quando o governo trocou o comando da empresa, substituindo o presidente Castello Branco pelo general Silva e Luna. 

No comando de Castello Branco, a empresa vinha realizando uma gestão em que buscava reajustar o preço dos combustíveis de acordo com a paridade internacional, para que houvesse sustentabilidade ao longo do tempo. Agindo dessa forma, conseguiu que a empresa recuperasse as perdas que sofreu nos últimos anos. Tudo corria bem até o momento em que o dólar se manteve em um patamar alto e o preço do barril de petróleo dobrou em um curto espaço de tempo. Para se ter uma ideia, no momento mais profundo da crise econômica de 2020, o barril de petróleo chegou a valer em torno de 20 dólares, em março de 2020. Um ano depois, o preço do barril já ultrapassa os 60 dólares.

Castello Branco seguiu fazendo reajustes nos combustíveis, levando o preço da gasolina a ter um reajuste de mais de 40% e o diesel de mais de 30%, só nos primeiros dois meses de 2021. Foi neste momento que o presidente Jair Bolsonaro resolveu fazer a intervenção na empresa e mudar a sua direção, com o discurso de que os aumentos estavam sendo abusivos.

Mas quais são as consequências dessa intervenção do governo? Vamos falar sobre o caso da Petrobras, mas que pode ser utilizado como exemplo para qualquer outra intervenção que ocorra no mesmo sentido.

1. Empresa e Acionistas

O reflexo imediato dessa intervenção foi uma queda de mais de 20% no valor das ações da empresa em um dia, dado que, com essa mudança, se espera que a Petrobras não vá seguir mais um padrão de paridade internacional dos preços. Com o novo comando, devemos ver os preços sendo represados, podendo gerar prejuízo para a empresa.

Mas isso afeta a vida da população além das pessoas que têm ações?

Sim. Vale lembrar que o principal acionista da Petrobras é o governo, ou seja, todos nós. Isso quer dizer que, quando a Petrobras distribui dividendos, todos nós nos beneficiamos, dado que esses valores podem ser utilizados para educação, saúde e outras áreas que o governo tenha interesse. Logo, o prejuízo da Petrobras não é benéfico para a população como um todo.

Veja que um dos motivos para a intervenção do governo na Petrobras foi acalmar os ânimos dos caminhoneiros que ameaçavam entrar em greve. Mas será que faz sentido o governo fazer algum subsídio a essa classe através da intervenção direta na empresa? Se fosse o caso de fazer subsídios, não faria mais sentido que isso fosse feito através da parte que cabe ao governo do lucro da empresa? E ainda assim, quando se mexe nos preços do diesel, não estaria também beneficiando multinacionais logísticas que não precisam ser beneficiadas? São algumas perguntas que certamente abrem o debate sobre esse tópico, que nunca é trivial.

2. Confiança do Investidor

A partir do momento em que o governo faz a intervenção em uma empresa, ele causa desconfiança no mercado e aumenta as incertezas em relação aos investimentos e às regras para se investir no país. O investidor, internacional ou doméstico, começa a ter dúvidas se realmente vale a pena investir em um país ou empresa em que as regras do jogo podem mudar rapidamente e prejudicar o retorno do capital alocado.

Com a confiança abalada, alguns ativos passam a sofrer consideravelmente, sem contar as empresas afetadas diretamente. Além do risco-país (risco de insolvência de um país) aumentar, as ações de empresas negociadas como um todo também sofrem, pois os investidores começam a ter medo de estarem posicionados e serem surpreendidos com outras decisões que afetem a regra do jogo.

3. Dólar

O dólar acaba sendo um dos ativos que mais sentem, pois o investidor estrangeiro, com medo de continuar investindo no país, leva de volta o capital investido aqui. Ou seja, temos um fluxo de conversão de real em dólares alto, fazendo a moeda brasileira se desvalorizar perante o dólar. 

Além disso, o investidor brasileiro também começa a ficar receoso em ter todos os seus investimentos no país e começa a converter parte do patrimônio em moedas fortes. Geralmente, o dólar é o caminho mais utilizado.

Com a subida do dólar, o custo do barril de petróleo em reais acaba aumentando também!

Então, será que interferir no comando de uma empresa de capital misto é de fato benéfico para a população? A discussão é longa, mas a reação dos investidores é rápida.

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Augusto Andréa

Augusto Andréa

Mestre em economia pela UFRJ com graduação pela PUC-Rio e MBA em Gestão de Investimentos.