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O que eu aprendi em 2020 sobre investimentos

por Marcos Moore

O ano passado foi singular, em todos os aspectos. Um ano muito duro para a maioria das pessoas, que perdeu renda, emprego e algumas até parentes e amigos, vítimas da Covid-19. Um ano para quem tem coração forte. Não bastando os efeitos da pandemia nas nossas vidas, também tivemos diversos eventos políticos em um país partido, com seus desdobramentos no ambiente econômico. A crise sanitária parece mais perto do fim. A econômica ainda pode durar, especialmente nos países emergentes.

Pessoas em casa, setores parados, empresas quebrando por falta de clientes. Nunca houve, pelo menos neste século, um evento que mexesse de forma tão dramática com as nossas vidas. Sofremos com as novas dinâmicas, seja na forma de consumir, interagir com os outros, estudar ou trabalhar. Aprendemos na marra a lidar com o diferente, com os imprevistos. Na nossa vida financeira, não foi diferente, por isso selecionei algumas mudanças de percepção, conceitos ou expectativas neste maluco 2020 para pensarmos:

Renda fixa não é exatamente fixa

A queridinha dos investidores brasileiros também sofreu com os solavancos. A começar com a taxa de juros básica, a Selic, que sofreu diversos cortes até bater no piso histórico de 2% ao ano. A farra dos juros altos, com aplicações que rendiam mais de 1% ao mês, foi terminando aos poucos. A caderneta de poupança, mais popular investimento do Brasil, remunerou muito pior seus investidores. A poupança hoje paga 70% da taxa Selic, o equivalente a apenas 1,4% ao ano. 

Os fundos de renda fixa, que possuem crédito privado na carteira, tiveram as cotas bastante afetadas. São os fundos que possuem “DI” ou “CP” no nome. Por crédito privado, entenda-se CDBs, debêntures, CRIs, CRAs, entre outros. Em meio ao pânico global causado pela pandemia, os preços dos títulos de crédito privado foram caindo pelo maior risco de mercado, atrelado à variação dos preços dos ativos, e pelo risco de quebra ou calote das empresas. Além disso, os resgates dos fundos fizeram os ativos de crédito privado terem que ser vendidos para honrar os pagamentos. Com a tempestade passando, os preços foram sendo ajustados e esses fundos voltaram ao normal, mas muitos gestores antigos no mercado nunca haviam visto um movimento parecido. O investidor mais experiente ou bem assessorado aproveitou as excelentes taxas oferecidas pelas empresas high grade após as fortes correções nos fundos.

Até o tesouro Selic, apontado como uma das aplicações mais seguras, rendeu negativamente em setembro, algo que não acontecia há 18 anos. Foi um ano atípico, mesmo na renda fixa, sem dúvida.

Depois da tempestade, há a bonança

Assistimos à queda mais aguda nos preços das ações da história. Nem na crise de 1929 ou 2008 tivemos tantos circuit breakes, seis no total em duas semanas. Para quem "não ligou o nome à pessoa", circuit break é um mecanismo que interrompe as negociações, após uma queda de mais de 10% do índice Bovespa durante o pregão. O Ibovespa, principal índice acionário brasileiro, chegou a recuar cerca de 40% apenas em março, desafiando as habilidades dos gestores de fundos de ações e multimercados. A reação em V foi espetacular, com destaque para novembro, com o Ibov valorizando 16%, a maior alta mensal desde março de 2016. Quem entendeu que o melhor momento de comprar ações é durante o pânico conseguiu dobrar o seu capital em várias ações. O investidor estrangeiro voltou a se interessar pelo nosso mercado e foi às compras, alimentando a alta e renovando a máxima histórica, na casa dos 120 mil pontos. O investidor pessoa física nunca esteve em tão grande número na nossa bolsa de valores, com mais de 3 milhões de CPFs cadastrados. A fuga da renda fixa, que passou a remunerar bem pior com os sucessivos cortes na taxa de juros, ajuda a explicar o interesse por investimentos em ações.

É preciso ter liquidez

Com a queda aguda dos mercados acionários, houve quem estivesse muito posicionado em renda variável e sofreu com as desvalorizações dos ativos, fundos de ações e multimercados. Sair no momento maior de pânico, em março, foi uma decisão equivocada de quem sucumbiu ao medo e tomou uma decisão emocional. Para quem enxergou pechinchas incríveis em ações de excelentes empresas, conseguiu aumentar seu capital de forma bastante expressiva. Mas e para quem estava totalmente posicionado, com forte presença de renda variável na carteira? Não teve muito o que fazer, a não ser segurar as emoções para não tomar uma decisão cardíaca. Por isso, vale ter sempre alguma reserva em ativos mais conservadores, de boa liquidez, para resgatar rapidamente e entrar nas promoções que as crises geram. 

Nunca guarde os ovos na mesma cesta

Uma carteira bem montada deve contemplar o tripé risco, retorno e liquidez. Seu perfil de investidor deve ser atendido, com investimentos alinhados a sua aceitação ao risco, objetivos e prazos. Portanto, torna-se mais rentável e mitiga riscos ter parte do capital em renda variável, como ações e fundos de ações; parte em renda fixa, com fundos, CDBs; e parte em ativos com características próprias, como os COEs. Ter algo em ouro e dólar também pode fazer sentido para alguns investidores. Em meio à crise global, alguns ativos compensaram a queda de outros.

Existe uma regra interessante de balanceamento de carteira que é a dos 50/50: metade do seu capital em bolsa e metade em investimentos mais conservadores. A cada período, que pode ser de seis meses ou um ano, o balanceamento deve ser atualizado. Digamos que seus investimentos em ações tiveram um desempenho superior aos investimentos em renda fixa. No final dos seis meses (ou um ano), deve-se tirar um pouco da parte alocada em Bolsa e colocar em renda fixa. Assim, manteremos sempre os 50/50. Se a parte em renda fixa tiver desempenho melhor que a parte em Bolsa, alocaremos em Bolsa o suficiente para voltarmos aos 50/50. Assim, conseguiremos chegar perto do ideal, que é "comprar Bolsa barata e vender Bolsa cara".

Em resumo, 2020 foi um ano de muito aprendizado nos investimentos. Mais do que nunca, a expressão “isso nunca aconteceu antes” foi colocada à prova. Ações caíram de forma vertiginosa e se recuperaram de forma poderosa. A renda fixa teve rendimento negativo, com as taxas de juros nas mínimas históricas. Mas saímos de mais uma crise. Com mais maturidade para as próximas turbulências, que sempre virão. 

Entre tantas surpresas e quebras de paradigmas, os brasileiros mudaram o jeito de investir, percebendo que existem alternativas muito mais interessantes do que as apresentadas pelos grandes bancos. O investidor também amadureceu, cuidando melhor do seu dinheiro. Que venha 2021, tomara que um ano mais leve, mas deverá chegar cheio de desafios. Por isso, caso queira uma ajuda com seus investimentos, conte conosco.

Feliz ano novo!

Encontre as melhores maneiras de conquistar seus objetivos de investimentos.

Marcos Moore

Marcos Moore

Marcos Moore é trader desde 2004, empresário e foi sócio-diretor da XP Educação. É também autor de livros sobre o mercado financeiro.