Pode ser uma questão cultural ou por ausência de educação financeira nas escolas ou nos lares, mas é fato que o brasileiro adora um “pulo do gato”. Aquela forma de ganhar dinheiro, ascender socialmente ou obter algum tipo de vantagem com um mínimo esforço possível.
Todos os dias, a nossa equipe é consultada sobre Opções Binárias, IQ Option, Olymp Trade, Criptomoedas, Forex, sites de apostas, entre outras modalidades. Essa demanda é facilmente explicada. O volume mensal de negociação em criptos brasileiras aumentou em quase 50 vezes em um ano. O número de investidores cadastrados em criptomoedas já é maior que o da Bolsa de Valores (B3) e do Tesouro Direto.;
Aqui cabe uma separação: há investimentos que são fraudes e investimentos que não são regulados pela Bolsa brasileira, sem serem, necessariamente, farças. Forex e criptomoedas são mercados muito fortes no exterior, negociados por instituições sérias, mas não são regulados no Brasil pela CVM (Comissão de Valores Mobiliários), “o xerife” do mercado financeiro no Brasil.
Este artigo não trata dessas formas de investir ou operar na renda variável, mas, sim, da busca incessante por ganhos exponenciais, fáceis e rápidos. O que faz um investidor que deseja ganhos mais expressivos buscar algo novo, ainda pouco conhecido, diferente do mercado de ações, que é regulado em uma Bolsa de valores e funciona há décadas? Será que esse investidor nunca ouviu a expressão “quando a esmola é demais o cego desconfia”?
Existe um paradoxo no ar: a esmagadora maioria dos brasileiros com algum tipo de investimento ainda prefere a caderneta de poupança, uma modalidade conservadora e que gera retornos que não superam nem a inflação. Por outro lado, vão surgindo as pirâmides e outros tipos de fraudes com promessas de ganhos de 10%, 15% ao mês. Isso mesmo, ao mês! Na poupança, os ganhos seriam de, em torno de, 3% ao ano. Uma diferença abissal.
Só para relembrar, já tivemos a Fazenda reunidas Boi Gordo, a pirâmide do avestruz, TelexFree, Unick Forex e lá fora o Esquema Ponzi e Madoff, entre outras menos famosas. Todas com perdas bilionárias para milhares de clientes.
Mesmo com a mídia cobrindo o desmantelamento desses esquemas, novas pessoas se aventuram neste mundo que envolve organização criminosa, lavagem de dinheiro, gestão fraudulenta. É preciso estudar como uma pessoa que tenha dinheiro para investir consegue acreditar em um novo negócio que gere retornos estratosféricos e, pior, por vezes, acompanhado do “livre de risco”. O fato é que o número de pirâmides de 2018 para cá mais que dobrou.
Meu palpite é que o investidor continua sendo conservador, ainda não se livrou da ideia da renda fixa pagando 1% de retorno ao mês, livre de risco quando nossa taxa de juros era de 14% ao ano. Mas, quando aparece uma oportunidade exclusiva, imperdível, ele deseja arriscar. Imagina se um amigo entra em um esquema desses, ganha dinheiro, mas você resolve ser desconfiado, fica de fora e a promessa era realmente real.
Pesquisas sobre economia comportamental apontam que a dor de ficar “de fora da festa” é maior do que de perder uma grande quantia. Buscamos o que nos dá prazer e eliminamos o que gera desconforto. Os criadores de esquemas usam contra os desavisados esse sentimento de custo de oportunidade, de escassez, de “vai perder a oportunidade da sua vida”. É assim que entra em jogo outro sentimento inerente ao ser humano: a ganância. Quando a ganância supera o medo e a desinformação, as portas para os esquemas se abrem.
Algumas dicas para não se deixar levar pelo “canto da sereia” dos pilantras do mercado:
- Nunca acredite em investimentos explosivos livres de risco. Se o nome é renda variável, quer dizer que não há um retorno certo, e sim que varia.
- Cheque se a empresa ou o profissional são credenciados por algum órgão regulador. Veja o histórico da empresa, converse com outras pessoas, consulte o “Reclame aqui”.
- Leia o contrato do serviço ou produto, peça ajuda a advogados.
- Atenção aos sinais. Se suspeitar de algo ou alguém, fale com a CVM.
Enriquecer dá trabalho, exige tempo, estudo, disciplina. Não há atalhos. Ninguém fica rico de um dia para o outro, a não ser que receba uma herança ou ganhe na Megasena. O processo de construção de riqueza é chato, demora e embute o desafio de abrir mão dos prazeres imediatos em prol de um futuro financeiro confortável. Trata-se de uma maratona, e não uma corrida de 100 metros. Envolve economizar e investir com sabedoria; mês após mês, por anos ou décadas.
Peça ajuda a um especialista para montar uma carteira de investimentos que contemple seu perfil de risco, objetivos e prazos. Se quer alternativas que permitam ganhos potenciais, seu perfil deverá ser agressivo e seu horizonte de tempo longo. As ações são um incrível modo de alavancar ganhos de forma gradativa, apostando no longo prazo. Em outros artigos, já explicamos a força do reinvestimento dos dividendos, que são os lucros das empresas distribuídos aos acionistas.
Quer turbinar ainda mais seus ganhos? Tome mais risco ainda. Opere contratos futuros, opções. São ativos regulados da B3. Mas saiba que a relação risco retorno é muito clara. Maior retorno potencial, maior o risco. Em nenhum deles, haverá ganhos de 15% ao mês de forma recorrente. Isso só existe nos contos de fadas ou nos prospectos dos fraudadores do mercado.
Ótimos investimentos!
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